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Em 1950 Vicente Risco participara no Congresso de Etnologia e Folk-lore em Oporto e com ele veio um grupo de ouvintes. Esta fotografia foi tirada durante a viagem por Portugal. Coleção particular.

“A Vicente Risco há que o abordar com mente aberta e crítica. Sem medo a cuestionar os seus posicionamentos”

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A Fundação Vicente Risco completa 25 anos em 12 de abril. Ao longo desses tempos, as figuras e o legado de Vicente Risco foram enriquecidos e valorizados: sua relevância na administração da revista Nós, seu papel como força motriz de muitos artistas e escritores galegos, seu relacionamento com as vanguardas históricas, seus laços com outras culturas, seu conceito estético que levou à concretização de um estilo galego…Esta entrevista com Luis Martínez-Risco, seu presidente, fala sobre o aprimoramento desta personalidade e da própria fundação.

Luís Martínez-Risco Daviña (Santiago de Compostela 1959), é doutor em História pela USC e catedrático de Ensino Secundário. Atualmente reformado. Presidente da Fundação Vicente Risco.

Luís Martínez-Risco Daviña / Galipedia

1.Uma das características dos textos de Vicente Risco é que temse a impressão de que ele está falando com vistas a não sua geração ou mesmo sua próxima geração. Ele está falando com aqueles que virão, aqueles que tomarão a tocha que eles sustentaram um dia. A Fundação que você preside mostra muito desse dinamismo. Que abordagem você gostaria de expandir sobre isso? Ou que você gostaria de alcançar?
Eu gostava de que a Fundação for um elemento de dinamismo da atividade cultural em que as distintintas sensibilidades encontrem um lugar de se manifestar, tal e como aconteceu com a pessoa de Vicente Risco, quem aglutinou arredor de ele a gente nova a quem soube inculcar a curiosidade intelectual. Um espaço aberto, em que todos os pensamentos tenham acolhida com o único condicionante de serem respeitosos com as opiniões contrárias, entendidas como propósito a prol e não em contra. Uma referência para a heterodoxia.

2.Risco cobre artigos, livros, obras gráficas, coleções de artistas -de Huici a Robert Delaunay -, revistas, viagens … é possível organizar atividades que refletem toda essa tarefa vital? Qual é a súa perspectiva, o seu selo?
Sim. E na medida das nossas possibildades, isso intentamos. De facto, a sala de exposições do baixo da nossa sede cobre essa intencionalidade.
E onde nós não temos inteligência para chegar, a temos para nos abrir a todas sugestões que se presentem. Único condicionante, ter capacidade de assumir o custe no plano económico.

3.O legado mantido na Fundação é formidável. Não so a nível da documentação pessoal e intelectual, mas também no nível artístico. Um fato interessante -e conhecido graças a Otero Pedrayo – é que, nos primeiros anos da revista, Risco era responsável por coletar as ilustrações feitas por Castelao e organizar tudo. Também foi impressa em cores, por dentro e por fora. A imagem encaixase perfeitamente na visão de cultura de Risco, quero dizer, vendo-a como uma força criativa e proativa com a sociedade e como uma força motriz para várias disciplinas, como ciência e tecnologia.
A revista Nós, no meu entender, é concebida como um instrumento de “alta cultura” que demostre que a produção cultural e intelectual realizada na Galiza não tem nada que envejar à realizada em outros países. O papel de Vicente Risco é fundamental pelo contato que mantem com autores como Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoaes, Hernani Cidade, Santos Junior, Phileas Lebesgue, Taldir, … Autores convidados em partilhar na revista Nós, contribuindo no desafio de divulgar e dar a conhecer a nossa cultura.

4.Por si só, Risco, em 1912 e 1917, era uma personalidade com idéias e um conceito estético próprio. É verdade que o conhecemos por ter inserido o mesmo na arte galega, mas no Prelúdio de toda a estética futura é um homem com uma ideia muito clara. Uma presença como Vicente Risco que significava -e significa-?
Ainda que a faceta artística de Vicente Risco é pouco conhecida, a ARTE foi fundamental para ele. Dizia que de não ser escritor, gostaria de ser artista, artísta plástico. Estudoso das tendências da arte, cursioso por natureza, Vicente Risco foi um impulsor da modernização da estética na Galiza.

Vicente Risco. Circa 1920. Gentilmente cedida por Miguel Anxo Seixas Seoane

5.As fotografias de Risco sempre chamarãome a atenção. Eles têm uma alta qualidade comunicativa, por causa da linguagem visual ou do conteúdo. E se não é pelo conteúdo, é pelo simbolismo. Aqui temos Risco fazendo de quase todas as imagens de si uma manifestação.
Mas no que você está a referir o mérito é do fotógrafo. Na Fundação Vicente Risco custodiamos algumas fotografias, e mesmo desenhos de caricatura, que deixam entre-ver a forte pessoalidade de Vicente Risco.

6.Por transferir e envolver a sociedade para ter consciência própria e de sua identidade, mesmo no visual, Risco pode ser considerado um catalisador da imagem galega?
Um mais. Um só grão não fez graeiro. Se a imagem da Galiza ficara reducida a uma soa pessoa, por muito importante e trascendental que ela for, a Galiza ficaria muito pobre. Somos uma sociedade diversa e complexa. Necessita de Vicente Risco. Mas necessita de todos. Considero que assim o percebiam as gentes da sua geração, com os que partilhou projetos tão fundamentais para a Galiza de hoje dia como Nós ou o Seminário de Estudos Galegos.

 

 

Vicente Risco durante sua conferência Galicia y la revolución estética. Atrás está pendurada a tela Noaia (1961), de Jaime Quessada, hoje preservada na Coleção Afundación. A conferência foi para a inauguração da exposição 20 pintores gallegos no Hostal dos Reis Católicos, Santiago de Compostela. 1961. Gentilmente cedida por Antón Santamarina

7.Risco foi um dos pioneiros na formação de símbolos representativos. Ele viu a continuidade das formas e da personalidade e a modernidade primitiva que residia nelas. Isso o levou a promover artistas que sabiam plasmar a História da Galiza (como Camilo Díaz Baliño) ou ligados a movimentos de vanguarda (como Quessada). Nesta linha, Risco aparece como um homem que projetou o conceito do Estilo galego -o espírito galego- e envolveu a sociedade galega no cultivo, como em outros países europeus. Isso incluía que todos tenham igual educação e direitos, mentalidade humanista, auto-imagem digna.
Eu tenho uma vissão de Vicente Risco como um homem complexo, cheio de matices e subtilezas. A Vicente Risco, entendo, há que o abordar com mente aberta e crítica. Sem medo a cuestionar os seus posicionamentos. Com espírito crítico mas sem o “criminalizar” como se tem realizado dende posicionamentos, digamos, simplistas que em nada fazem justiça nem a Vicente Risco, nem a quem os realiza.
Essa complexidade à que nos referiamos da lugar a que nos encontremos com um homem aparentemente contraditório, mas a sua riqueza estriva em essa contradição que para ele é vital.
Um homem que gosta das vangardas, mas que entende que o ensino deve de partir da realidade em que vivem as crianças. Um homem que quere o progresso para a sua Terra, mas este deve partir do respeito pelas suas tradições. Um mestre que, nas tertúlias, imparte o seu magistério além das aulas. O etnógrafo estudoso da Galiza que está a desaparecer, mas que abre caminhos para artistas renovadores da arte. Um homem que com as suas críticas aos certames de beleza, defende a dignidade e a igualdade da mulher. Um conservador ao que escutam novos ancorados muito à sua esquerda. Um católico que abraça o budhismo e as sua cosmovisão panteista, sem a qual não entenderiamos o seu conceito de Terra.

8.Que você acha que Vicente Risco precisa? Uma nova linha de estudo, uma classe de difusão mais rica, mas completa e diversificada…Ele era um homem de múltiplas facetas, mas sempre em concatenação
No meu entender o que a figura de Vicente Risco presisa é que se aborde a sua complexidade sem preconceitos, asumindo como ele era. Ler direta e com olhos críticos, sem intermediarios que o xulguem. Valorar as suas contradiciões como um elemento fundamental da sua cosmovisão e com um propósito em positivo, tendo em consideração a época em que ele escreve e as circunstâncias, terríveis, que viviu.

9.Risco era um homem que amava a natureza. Ele tinha absoluto respeito no relacionamento com a Terra…A Fundação Vicente Risco, com toda a riqueza de princípios e imaginação dessa figura histórica, que incentiva de uma perspectiva como a dele em um tempo como este?
No meu entender dende a Fundação Vicente Risco procuramos que as nossas atividades estejam inseridas por essa premisa de AMOR E RESPEITO À TERRA. Procurar a sustentavilidade e optimizar de recursos ou aforro energético, podem ser um exemplo. Aliás de atividades concretas em que se põem de manifesto essa sensibilidade, consideramos que a praxe em detalhes como os referidos é uma amostra de esse compromisso.

Escrito por

Historiadora da Arte.

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